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quinta-feira, julho 16, 2009

Músicos em trânsito: por que não tocar em Londres e nos EUA

15 DE JULHO DE 2009 - 18h20

O trauma de se conseguir um visto para entrar em países como Estados Unidos e Inglaterra chegou ao cotidiano dos músicos. A revista da BBC, edição de julho, noticia que a English National Opera, de Londres, foi obrigada a mudar os planos para uma nova produção de Cosi Fan Tutte, de Mozart.

Por João Luiz Sampaio*, em seu blog

Tudo isso porque o diretor convidado, o iraniano Abbas Kiarostami, recusou-se a passar por todo o procedimento legal necessário à obtenção de um visto de trabalho: “filas quilométricas, impressões digitais, entrevistas cansativas”, em suas palavras. Segundo Kiarostami, o mesmo visto lhe foi concedido de maneira natural em outros países europeus.

A reação das partes envolvidas é emblemática dos dois principais argumentos em torno de questão tão complexa. Para John Berry, diretor da ENO, “é uma pena vivermos em uma situação na qual alguém como Kiarostami é levado a acreditar que sua presença em nosso país não é desejada”. Já um porta-voz da Alfândega do Reino Unido respondeu que “esses procedimentos são parte crucial na segurança de nossas fronteiras e não vamos pedir desculpas por eles”.

O caso de Kiarostami não é o único. Há alguns meses, o pianista Kristian Zimerman anunciou, durante recital em Los Angeles, que não tocará mais nos Estados Unidos: entre os motivos, o problema que tem toda vez que entra no país (na verdade, a imigração cisma mesmo é com o seu piano, que ele leva em qualquer viagem).

Mais um: a Ryan Airlines está proibindo violinistas e músicos de instrumentos pequenos de levá-los a bordo, obrigando-os a despachá-los como bagagem (já imaginou você viajando a Paris e seu Stradivarius de U$ 5 milhões indo parar em Honolulu?). A opção, para quem quiser levar o instrumento a bordo, é comprar outra passagem.

Sobre o assunto, o maestro Mark Elder fez um pequeno discurso em concerto recente: “Parece que nos próximos anos o que vamos ouvir é concertos para orquestra e lap-top”. Também o pianista Grigory Sokolov abriu mão de concertos para os quais foi convidado em Londres quando soube que teria de ser entrevistado na embaixada sobre os motivos de sua viagem.

Desde 2002, ficaram célebres também casos de cantores de ópera do Leste Europeu que recusaram contratos no Metropolitan de Nova York por conta das investigações feitas pelo departamento de imigração norte-americano, que incluía entrevistas com familiares, vizinhos e amigos dos artistas. O que vocês acham?

* João Luiz Sampaio é jornalista do O Estado de S.Paulo

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