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terça-feira, julho 07, 2009

Os pianistas devem ser bonitos como as violinistas, diz Alfred Brendel


Alfred Brendel leva as pessoas a refletirem sobre a música. Não apenas seus discípulos, também os leitores de seus livros e poemas, os ouvintes de suas palestras. Difícil encontrar alguém que haja refletido tanto quanto o pianista de nacionalidade austríaca, em seus quase 60 anos de carreira. Quanto ao repertório, concentrou-se em seus poucos favoritos entre os compositores: Haydn, Mozart, Beethoven e Schubert.

Em dezembro de 2008, Brendel encerrou a carreira no palco. "Para mim, os concertos não eram como uma droga. Pensei: não quero continuar tocando tanto tempo que se comece a notar o esforço que dar concertos representa quando se fica mais velho". Agora, ele dispõe de mais tempo, inclusive para receber honrarias. Sob o título "As Grandes Escolas Pianísticas do Presente", o Klavierfestival Ruhr, realizado de maio a julho, dedicou-lhe uma semana de homenagens, durante a qual se apresentaram quatro de seus alunos.

Um deles, Kit Armstrong, tem apenas 17 anos de idade, mas já é "um dos melhores intérpretes de Bach", segundo Brendel. Outro, Herbert Schuch, conta sobre sua primeira aula com o mestre. "Ele me disse: 'é, o senhor toca piano muito bem'. E esse foi todo o circunlóquio, daí partimos para a ação".

A experiência foi marcante: Schuch, que acabara de gravar sonatas de Franz Schubert, descartou as interpretações e reviu sua concepção sobre tudo, depois da aula com Brendel. "É sempre tudo ou nada", assim o jovem pianista caracteriza o método brendeliano. "Desde que estive com ele, ouço os pianistas com ouvidos totalmente outros."

A procura da ideia na obra
A palavra "alunos" soa fraca demais para indicar pianistas que nada mais têm a aprender do ponto de vista técnico, mas que se beneficiam com os profundos insights do mestre. No que concerne Schuch, por exemplo, Brendel louva em especial seu apurado ouvido para timbres. A intervalos irregulares, os dois pianistas se encontram na residência de Brendel em Londres, para tardes de análise musical em profundidade.

"De vez em quando, sempre que posso, tenho ajudado jovens pianistas na qualidade de colega mais velho e experiente, mas que, por vezes, penetra bastante nas minúcias." Com seus discípulos, Brendel busca o caráter imutável de cada peça: a "ideia da obra" deve vir à tona, da forma menos distorcida possível.

Alfred Brendel é considerado um dos maiores pianistas clássicos vivos. Ele nasceu em 5 de janeiro de 1931, em Vízmberk (hoje Lou? nad Desnou, na República Tcheca). Em 1950 mudou-se para Viena, e em 1970 estabeleceu-se em Londres, no bairro de Hampstead.

O virtuose aposentado tem sido presença obrigatória no festival de piano da região do Vale do Ruhr nos últimos 13 anos. Ele vê numerosos grandes talentos entre a nova geração de pianistas. Mas também exibicionistas do teclado, que mal estão em condições de executar um concerto de Beethoven decentemente.

Há algo que os jovens pianistas já têm que necessariamente trazer consigo, que não se pode lhes ensinar? "Um saudável senso de ritmo. A habilidade de perceber processos harmônicos e de reagir a eles. E a procura de um som cantábile", resume Brendel.

Além de seus conhecimentos profundos, o senso de humor é outra característica notória dessa lenda viva, apelidado "venerável presidente do alto pianismo internacional": "Se me perguntassem se gostaria de ser um jovem pianista hoje, eu diria: os pianistas jovens de hoje em dia têm algo a aprender com os violinistas. Sobretudo com as violinistas, que são tão bonitas de se olhar. Aí fica tudo tão mais fácil!"

Revisão: Roselaine wandscheer

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